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Estudos de Necessidades de Informação: dos paradigmas tradicionais à abordagem Sense-Making


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1 INTRODUÇÃO

Foi a partir do trabalho de BERNAL e URQUHART, apresentado na Conferência de Informação Científica da Royal Society em 1948, que surgiram as primeiras reflexões sobre estudos orientados às necessidades de usuários, mais especificamente focalizando a maneira como os cientistas e técnicos procedem para obter informação, ou como usam a literatura nas suas respectivas áreas (FIGUEIREDO, 1979, 1983).

Estudos dessa natureza passaram por várias e diferentes fases:
- Inicialmente, final da década de 40, tinham como objetivo agilizar e aperfeiçoar serviços e produtos prestados pelas bibliotecas. Tais estudos restringiram-se a área de Ciências Exatas.
- Na década de 50 intensificam-se os estudos sobre o uso da informação entre grupos específicos de usuários abrangendo jás as Ciências Aplicadas.
- Só nos anos 60 é que se enfatiza o comportamento do usuários; surgindo estudos de fluxo da informação, canais formais e informais. Os tecnólogos e educadores começam a ser pesquisados.
- Já na década de 70, a preocupação maior passa a ser o usuário e a satisfação de suas necessidades de informação, atendendo outras áreas do conhecimento como: humanidades, ciências socias e administrativas(1).
- A partir de 80, os estudos estão voltados à avaliação de satisfação e desempenho.

Desde 1960, vem crescendo, na literatura internacional, estudos que ilustram e analisam muitos e diferentes aspectos de busca e uso da informação, fato esse acentuado com o início (em 1966) da seção especial sobre "Necessidades e Usos de Informação" na publicação Annual Review of Information Science and Technology / ARIST.

Das várias revisões sobre o estado-da-arte na área, algumas considerações gerais podem ser delineadas:

 

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(1) São da década de 70 os primeiros trabalhos na literatura especializada brasileira sobre o tema


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a) até a década de 70, estudos se configuravam em dois tipos: orientados ao uso de uma biblioteca/serviço; ou orientados ao usuário, i.é., como grupos particulares de usuários obtinham a informação necessária ao desempenho de suas atividades profissionais (WILSON e DAVIS apud CUNHA, 1982).
b) diversos estudos tem sido direcionados para o comportamento de busca e uso da informação em população específica como cientistas, físicos, quimicos, engenheiros, etc. Também usuários de bibliotecas publicas, universitárias, especializadas e em vários países vem sendo pesquisados (LINE, 1971; MARTYN, 1974; FAIBISOFT e ELY, 1976; ZWEIZIG e DERVIN, 1977; STONE, 1982; RHODE, 1986).
c) os principais objetivos destes estudos tinham o fito de:
- determinar os documentos mais utilizados,
- descobrir hábitos dos usuários para obter informação nas fontes disponíveis, bem como as maneiras de busca (uso de serviços de recuperação de informação, processo de citação, canais informais, etc.)
- estudar aceitação das inovações tecnológicas da época;
- evidenciar o uso feito dos documentos;
- pesquisar as maneiras para obtenção de acesso aos documentos;
-  determinar as demoras toleráveis. (FIGUEIREDO, 1979, 1994).

d) os resultados obtidos, bastante diversificados, serão comentados abaixo muito resumidamente. Parte deles possibilitaram generalizar dados, os quais têm sido utilizados para direcionar e auxiliar administradores na melhoria de seus sistemas de informação.

WILSON (1981) assegura que estudos desenvolvidos até a decada de 70, compreendiam necessidades de informação de forma tal que levam os sistemas de informação cada vez mais a se marginalizarem no que tange ao atendimento das reais necessidades dos usuários. STONE(1982) também critica esses estudos, por oferecerem m'nimas diretrizes sobre a forma como os sistemas estaãoencontrando as necessidades de seus usuários. Afirma que a literatura propicia pouco apoio aos profissionais da informação sobre como descobrir as necessidades de usuários, sendo provável que mais confundam do que elucidem.

WHITE (apud DERVIN e NILAN, 1986) conclui que tais estudos têm reiterado somente aquilo que os sistemas de informação têm colocado

 


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nas mentes dos usuários e, consequentemente, nção tem ajudado a manejar efetivamente problemas reais.

MARTYN (apud FIGUEIREDO, 1994, p.28) sintetiza dizendo que "inicialmente, os estudos de usuários dirigiram-se para o uso das bibliotecas: quem, o que, quando, onde. Apenas um pequeno grupo de estudos tentou saber como as bibliotecas sção utilizadas, uns poucos procuraram interpretar o por que usuários as utilizam e quais os efeitos do uso da biblioteca na vida, estudo, trabalho etc. dos usuários."

Enquanto as descrições acima são resultados e/ou conclusõees específicos de estudos individuais, algumas revisões do estado-da-arte tem mostrado um panorama muito mais amplo, que tem contribuido mais eficientemente para a implementação de sistemas e serviços de informação.

Nas revisões publicadas pelo ARIST, os problemas críticos e generalizáveis quanto aos estudos de necessidade e uso da informação são:
(i) falta uniformidade conceitual nas pesquisas, termos como informação, necessidades de informação e uso da informação tem sido utilizados indiscriminadamente;
(ii) faltam definições e pressupostos claros para focalizar variáveis e gerar questões de pesquisa e,
(iii) ausência de metodologias específicas, abrangentes e com rigor científico (DERVIN e NILAN, 1986). A inadequabilidade das metodologias adotadas tem sido apontada unanimamente por vários revisores (MENZEL, 1966; HERNER e HERNER, 1967; PAISLEY, 1968; LIN e GARVEY, 1972; DERVIN e NILAN, 1986).

Outros revisores apontam ainda que, por várias décadas, estudos descreveram as ações dos usuários e expressaram suas necessidades a partir da perspectiva do sistema de informação e dos provedores de informação (FORD, 1973; FAIBISOFF e ELY, 1976; ZWEIZIG e DERVIN, 1977; MICK e LINDSEY e CALLAHAN, 1980; DERVIN e NILAN, JACOBSON, 1981; DERVIN e JACOBSON e NILAN, 1982; JAMES, 1983; KRIKELAS, 1983; BELKIN, 1984; ROUSE e ROUSE, 1984; RHODE, 1986; TAYLOR, 1986; WILSON, 1981, 1984;).

Fatores importantes foram identificados, nestes estudos, como influenciadores das necessidades de informação dos usuários, os quais ALLEN (1989) chama de "modelo dos fatores influenciáveis". Os tipos mais comuns são características e atributos, que incluem experiência, faixa etária,nível

 


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educacional, estilos cognitivos e orientação individual ( PAISLEY e PARKER, 1967; WARNER e MURRAY e PALMOUR, 1973; PENLAND, 1976; FORD, 1983; DERVIN, 1989; MICK e LINDSEY e CALLAHAN, 1990).

O comportamento do usuário e suas preferências pessoais, i.e., hobbies, interesses e atividades de lazer também sção determinantes de necessidades de informação (MICK, LINDSEY e CALLAHAN, 1990).

Entretanto, a maioria dos estudos aponta a profissão do usuário como o mais importante e influente fator para determinar necessidades de informação. É chamado de círculo concêntrico, por PAISLEY (1980), incluindo área de assunto; atividades, interesse e hábitos profissionais e ambiente de trabalho. Alguns estudos mostram que para o usuário buscar e usar informação deve, primeiro, estar consciente das fontes e serviços de informação disponíveis em seu ambiente (PRINGGOADISURYO, 1984; RIEGER e ANDERSON). As necessidades de informação são também influenciadas pela organização dos sistemas, necessidades do conteúdo emáico disponível, incluindo formato, quantidade e atualização das informações.

Fatores determinantes de freqüência no uso de serviços de informação ou de fontes específicas de informação estção relacionados com a percepção que os usuários tem quanto às facilidades e acessibilidade para usá- los, incluindo custos, riscos, proximidade geográfica, disponibilidade de mœltiplas fontes de informação e de canais de comunicação tanto formais como informais (KENNEY, 1966; ORTON e WIKSEMAN, 1997; GAINS, 1978; CHEN e HERNON, 1982; MICK e LINDSEY e CALLAHAN, 1980; FISHER, 1982; PRINGGOADISURYO, 1984; FIGUEIREDO, 1994).

Enquanto os resultados até agora mencionados se constituem em conclusões específicas de estudos individuais, algumas revisões de literatura têm gerado outros tantos resultados valiosos para propósitos práticos e teóricos. As revisões publicadas no ARIST/Annual Review of Information Science and Technology" têm apontado a preocupação, generalizada entre a comunidade especializada na área, quanto a questão das "metodologias" utilizadas para estudar e pesquisar necessidades e usos, e com a falta de definições coerentes entre vários conceitos pertinentes a estudo de usuários.
 


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Página criada em 19/01/98  por Odila Reis
Última atualização em: 09/02/98