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Estudos de Necessidades de Informação: dos paradigmas tradicionais à abordagem Sense-Making
2 DIFERENTES ABORDAGENS PARA ESTUDO DE NECESSIDADES
Decorrente deste contexto, ao final de 1970, surge nova concepção
para estudos de comportamento de busca e uso da informação.
Segundo DERVIN e NILAN (1986), a partir daí, a literatura tem divergido
em duas direções:
a) abordagem tradicional,
estudos direcionados sob a -tica do sistema de informação
ou biblioteca (system-oriented approach ou traditional approach ).
b) abordagem alternativa,
isto é, direcionada sob a ótica do usuário (user-
oriented approach ou alternative approach).
2.1 ABORDAGENS TRADICIONAIS
Segundo TAYLOR (1986), os estudos dentro desse paradigma tradicional têm sido dirigidos ao "conteúdo" ou a "tecnologia".
São voltados ao conteúdo, os estudos relacionados às linhas temáticas de interesse de grupos de usuários, sempre baseados nos modelos tradicionais de classificação do conhecimento, utilizando, por exemplo, as classificações decimais existentes. Embora, na maioria das vezes, esses modelos sejam desconhecidos pelos usuários, continuam a servir de denominadores para determinar a estrutura organizacional da informação no bojo do sistema.
Já estudos, enfocando o uso de livros, fontes, bases de dados, obras de referência, computador ou o próprio sistema, são os voltados à "tecnologia". A ênfase está na maneira com que isto afeta o armazenamento, acessibilidade e a disseminação da informação ou do conhecimento. Baseado em seus resultados, esses estudos têm prescrito tamanhos, formatos, dinâmica
e mesmo os tipos de materiais a serem incorporados aos sistemas de informação.
Nesses dois mencionados tipos de estudos, o usuário éapenas o informante. Não sendo em nenhum momento o objeto do estudo.
De acordo com DERVIN &
NILAN (1986), estudos voltados para a abordagem tradicional, geralmente
examinam o comportamento do usuário real ou potencial referente
as seguintes atitudes:
1) usa um ou mais sistemas
de informação, um ou mais tipos de serviços de informação
e materiais; 2) é afetado por uma ou mais barreiras ao uso do sistema
de informação; e
3) demonstra satisfação
com os vários atributos do sistema.
Nessa abordagem, a informação é considerada, pois, como algo objetivo, existente fora das pessoas e passível de ser transferida de uma para outra. Segundo DERVIN e NILAN (1986) várias tem sido suas definições : é uma propriedade da matéria; ou qualquer mensagem, documento ou fonte; qualquer material simbólico disponível para o público; qualquer dado. Portanto, parece ser poss'vel que a eficiência e o sucesso das operações de um sistema possam ser medidos em função do número de fontes de informações recuperadas pelo sistema versus, o que realmente foi de interesse do usuário. Isso coloca o usuário como um processador imperfeito da informação, pois é já sabido que nem todas as pessoas se interessam pelas mesmas fontes indicadas.
Conforme citado por RHODE (1986), ignora-se o fato de que o ser humano cria sua própria realidade, e tem seus próprios estoques internos de informação, os quais sção usados para compreender as informações externas e as diferentes situações que os indivíduos se encontram em dado momento.
Ao contrário, procura-se, nesses estudos, explicar as diferenças entre os usuários como simples decorrência de influências sociológicas e demográficas, estilo de vida e especificidade do trabalho (DERVIN e NILAN, 1986). Entretanto, comportamento de busca e uso de informação são também modelados pelo estilo cognitivo do indivíduo, i.e., sujeito ativo internamente versus ativo externamente, sistemático versus intuitivo, e/ou criativo versus menos criativo (ROUSE e ROUSE, 1984), sendo esse o veio da abordagem alternativa.
A abordagem tradicional não tem examinado os fatores que geram o encontro do usuário com os sistemas de informação ou as conseqüências de tal confronto. Limita-se à tarefa de localizar fontes e informação, desconsiderando as etapas de interpretação, formulação e aprendizagem envolvidas no processo de busca de informação. O aumento no acesso à vasta quantidade de informação requer serviços que se centrem no significado da busca mais do que meramente na localização da fonte.
Segundo MICK, LINDSEY e CALLAHAN (1980) " a transição efetiva para a era da informação exige mudança daqueles sistemas de informação respaldados nos critérios de tecnologia e conteúdo, para sistemas dirigidos pelas necessidades dos usuários". Ademais, WILSON (1981) sugere que deveria ocorrer uma mudança nas orientações metodológicas dos estudos encaixando-os nos estudos de "percepção dos usuários", visando reduzir a marginalidade dos sistemas de informação atuais.
A abordagem tradicional não vem se mostrando adequada para acomodar os diferentes tipos de problemas dos usuários na era da informação, portanto, grande parte das pesquisas atuais vem buscando auxílio e respaldo metodológico junto as abordagens alternativas.
Diversos exemplos de estudos, delineados dentro desta abordagem tradicional foram e ainda estão sendo desenvolvidos em diferentes países, tornando a literatura bastante volumosa. Pode-se arriscar a afirmar que referente ao Brasil, grande parte dos estudos de usuários desenvolvidos até a presente data tem sido ainda delineados na antiga abordagem.
2.2 ABORDAGENS ALTERNATIVAS
Conhecidos, também,
como "abordagem centrada no usuário" ou ainda "abordagem da percepção
do usuário", estes novos estudos de comportamento de usuários
se caracterizam por:
1) observar o ser humano
como sendo construtivo e ativo;
2) considerar o indivíduo
como sendo orientado situacionalmente;
3) visualizar holisticamente
as experiências do indivíduo;
4) focalizar os aspectos
cognitivos envolvidos;
As bases desta nova abordagem
são:
- o processo de se buscar
compreensão do que seja "necessidade de informação"
deve ser analisado sob a perspectiva da individualidade do sujeito a ser
pesquisado;
- a informação
necessária e o tanto de esforço empreendido no seu acesso,
devem ser contextualizados na situação real onde ela emergiu;
- o uso da informação deve ser dado e determinado pelo próprio
indivíduo (CHEN e HERNON, 82).
Nesse sentido, TAYLOR (1986) defende a idéia de se enfocar, prioritariamente, nos estudos alternativos, o problema individual dos usuários. Que informação um indivíduo quer encontrar no sistema de informação, que uso fará dela, e como o sistema pode melhor ser projetado para preencher essas necessidades de informação, dependerão exclusivamente dele próprio, de seu propósito na busca de informação, e do uso da mesma na transposição de vazios(JAMES, 1983).
Informação e necessidade de informação são conceitos utilizados diferentes conotações. CRAWFORD (1978) e FORD (1980) ja os cunharam anteriormene, como sendo termos difíceis de serem definidos, isolados e medidos.
Informação é essencialmente vista como uma ferramenta valiosa e útil para os seres humanos em suas tentativas de prosseguir com sucesso suas vidas. Conforme o indivíduo se move através do tempo e espaço, assume-se que ela tanto pode descrever como predizer a realidade, e, na verdade, permite ao indivíduo mover-se de modo mais eficiente.
Segundo ROUSE e ROUSE (1984, p.129), o ser humano raramente busca informação como um fim em si mesma. Ao contrário, ela é parte de um processo de tomada de decisção, solução de problemas ou alocação de recursos. Porém, a pr-pria atividade de se "buscar informação" éum processo em si mesmo. Um processo dinâmico onde métodos e critérios utilizados para selecionar ou rejeitar informações variam freq:uentemente no tempo (KRIKELAS, 1983), dependem dos resultados imediatos (ROUSE e
ROUSE, 1984), são fortemente relacionados com os hábitos pessoais do indivíduo (CHILDERS, 1982) e com as necessidades que precisam ser satisfeitas (BROWN, 1991).
Esta perspectiva de processo dinâmico envolvido por um processo maior, denota sua complexidade e requer que a abordagem da busca de informação humana seja feita de uma maneira muito mais ampla do que vinha sendo adotada por aqueles que estudam o processamento de informação humana e o design de sistemas. Dessa base conceitual, KRIKELAS (1983) define o comportamento de busca de informação "como uma atividade de um indivíduo empenhado em identificar uma mensagem para satisfazer uma necessidade percebida".
Portanto, qualquer tentativa de descrever padrões de busca de informação deve admitir o indivíduo como o centro do fenômeno, e considerar a visão, necessidades, opiniões e danos desse indivíduo como elementos significantes e influentes que merecem investigação. Necessidades de informação, ainda, devem ser definidas em plano individual, destacando-se atenção para o tempo e espaço específicos experimentados pelo elemento em particular.
Embora as pessoas tenham suas pr-prias experiências, subjetivas e únicas, enquanto estão se movendo no tempo e espaço, existe também grande similaridade entre situações encontradas pelos diferentes indivíduos. Portanto, necessidade de informação não é um conceito subjetivo e relativo, o qual existe somente na mente de um indivíduo. Ao contrário, representa um conceito intersubjetivo com significados, valores, objetivos, etc. passíveis de serem compartilhados. Um conceito que permite a identificação e generalização de padrões de comportamento de busca e uso de informação através do tempo e espaço sob a ótica do usuário (DERVIN e NILAN, 1986).
A abordagem alternativa ao
posicionar informação como algo construído pelo ser
humano, está visualizando o indivíduo em constante processo
de construção, livre para criar o que quiser junto aos sistemas
ou às situações. Essa abordagem se preocupa em entender
como pessoas chegam à compreensão das coisas, pesquisando
por dimensões passíveis de generalizações dessa
tomada de consciência (ou de compreensão), e ainda em identificar
o processo de uso da informação em situações
particulares.
Enquanto estudos tradicionais examinam os sistemas apenas através das características grupais e demográficas de seus usurios, os alternativos estudam as características e perspectivas individuais dos usuários. Pesquisas anteriores provam que os atributos demográficos (sexo, idade, raça, religião, renda familiar) não são indicadores potenciais do comportamento de busca e uso da informação. O uso exclusivo deles contribui para que sejam ignoradas as mudanças temporais e espaciais que ocorrem no cotidiano dos indivíduos. (DERVIN e NILAN; JACOBSON, 1982; ATWOOD e DERVIN, 1981, DERVIN e NILAN, 1986).
Essa abordagem alternativa foi empregada primeiramente nas Ciências Sociais, posteriormente na Comunicação e Informação.
Na área da Ciência
da Informação, tal abordagem tem sido trabalhada em diferentes
vertentes:
a) Abordagem de "Valor
Agregado" de Robert Taylor - User-Values ou Value- Added (TAYLOR, 1986).
b) Abordagem do "Estado
de Conhecimento Anômalo" de Belkin e Oddy e Brooks - Anomalous
StateSóof-Knowledge (BELKIN e ODDY e Brooks, 1982a, 1982b).
c) Abordagem do "Processo
Construtivista" de Carol Kuhlthau - Constructive Process Approach (KUHLTHAU,
1993).
d) Abordagem "Sense-Making"
de Brenda Dervin (DERVIN, 1977,1983a, 1993, 1994).
Enquanto as abordagens de Taylor, Belkin & Oddy e Kuhlthau têm contribuído com argumentos conceituais e teóricos profundos para um paradigma alternativo em estudos de usuários, Dervin vai além apresentando um método bastante elucidativo para mapear necessidades de informação sob a ótica do usuário.
A seguir apresenta-se descrição
mais pormenorizada do Sense- Making Approach (2).
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(2) Optou-e por utilizar
o termo em inglês "Sense-Making", dado que tal neologismo não
tem correspondentes ainda no idioma nacional. A tarefa de definição
de inequívoca expressão à língua portuguesa
é tarefa difícil que deve envolver estudos lingüísticos
e semânticos. Não sendo este o propósito deste trabalho.
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